24 de abril de 2024

Entorno da praia d’Àgua, em Imbituba, é cercada e comunidade se revolta

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Leilão de terras em Imbituba, feito pelo Governo de Santa Catarina, há mais de uma década pode colocar em risco um dos principais redutos ainda preservados da cidade. População está apreensiva com o uso que será dado ao local, e grupos, moradores e entidades já se movimentam para tentar impedir que a área preservada e mantida pela comunidade seja perdida

Placa fixada próximo a um dos acessos a praia d'Água, em Imbituba. Foto: Divulgação

Em resumo, há cerca de pouco mais de uma década, o Governo do Estado de Santa Catarina, em conjunto com vários órgãos municipais e estaduais, resolveu leiloar terras, até então, ‘esquecidas’, na região de Imbituba. Alguns empresários da cidade, e a prefeitura, adquiriram através deste leilão um ‘quinhão’ destas terras.

A parte que coube a prefeitura, virou o Distrito Industrial, as margens da BR 101, no acesso norte da cidade. O restante figura em áreas com grande possibilidade de desenvolvimento para Imbituba. Dentre elas, um pedaço destas terras sempre chamou a atenção da população, que causava espanto por sua proximidade com o mar, em área de preservação, com milhares de pés de butiás – protegidos por Legislação Federal -, e outras espécies da fauna e flora local, entre elas, algumas na ‘lista vermelha de extinção’.

Alguns anos após o leilão, o próprio governo estadual suspendeu as matrículas para que fosse investigado a forma como foi procedido o mesmo. Com a extinção do órgão responsável em administrar as terras há época, a Codisc – Companhia de Distritos Industriais de Santa Catarina -, todo material de análise foi repassado para a outro órgão, a Codesc – Companhia de Desenvolvimento do Estado de Santa Catarina -, que se tornou responsável pela averiguação.

Comunidade apreensiva, virou guardiã da praia d’Água

Cercas foram erguidas no entorno da praia d’Água, em são visíveis em vários pontos. Foto: Divulgação.

Durante todos estes anos, a comunidade, além de apreensiva, acabou se tornado guardiã do local, após seguidas e duvidosas queimadas que vinham ocorrendo com certa frequência, que para muitos moradores, podem sim terem sido criminosas, e invasões frequentes. Diversos boletins de ocorrência foram confeccionados na Polícia Civil de Imbituba, durante todo este tempo, e o trabalho do Corpo de Bombeiros de Imbituba, junto com a comunidade, foi incansável para minimizar as queimadas.

Informações desencontradas: População quer explicações e preservação

Praia d’Água, em Imbituba, um dos últimos redutos ainda preservados na costa catarinense. Foto: Nilo Pittigliani/Divulgação.

Nesta última segunda feira (20), as redes sociais foram tomadas por fotos e informações que davam conta do cercamento da área de entorno a uma das praias mais preservadas e ainda intactas do litoral catarinense, a praia d’Água, em Imbituba. Os acessos ao local podem ser feitos apenas por trilhas que circundam a praia.

Com diversas informações desencontradas, tanto moradores, quanto assíduos frequentadores do local, de outras cidades e estados, tentavam entender o motivo daquela decisão, para muitos, arbitrária. Empresários da região são apontados como proprietários daquela porção de terra, e, segundo informações, uma decisão judicial, ou liminar, poderia ter sido concedida para a liberação das matrículas, suspensas até então.

Muitos questionam nas redes sociais, o que deverá ocorrer com aquela grande área no entorno da praia d’Água, se haverá algum tipo de construção, se será vendida, e se o acesso a praia ficará restrito ou fechado. E sobre as diversas espécies da fauna e flora lá existentes, e a geologia das encostas que circundam a praia neste momento, que para muitos, uma intervenção nas encostas podem trazer prejuízos futuros a totalidade do ambiente no local.

Lista vermelha’ de espécies em extinção presentes no entorno da praia d’Água, virou preocupação para ambientalistas que cuidam e estudam o local.

A praia d’Água, em Imbituba, junto com todas os outras praias e ambientes ainda preservados da cidade, é considerada hoje um dos principais atrativos da região, além de ser uma das melhores e mais preservadas ondas para surf, reduto de trilhas ecológicas, com um grande manancial de águas que brotam de vertedouros e nascentes da encosta. A preservação de todo aquele ambiente é mantida por um grande número de frequentadores, que realizam limpezas frequentes, e manutenção de suas passagens.

Para muitos internautas que participam dos movimentos que ocorrem nas redes sociais, o resumo é um só: o local é um santuário a céu aberto e, mesmo com as recentes queimadas ocorridas e a falta de sensibilidade do poder público, o pensamento deveria ser outro, não o do descaso e da impotência, que é o que muitos que defendem o local não querem.

Batalha perdida (?): Imbitubenses se manifestam e acusam ‘um duro golpe’

O acesso é feito apenas por trilhas, pela praia do Porto, ou praia da Ribanceira, entre outros acessos. Seus principais frequentadores, os surfistas, os trilheiros e amantes da natureza ainda intocada. Foto: Nilo Pittigliani/divulgação.

A cidade de Imbituba já é mundialmente conhecida no quesito preservação e manutenção de suas riquezas naturais. Durante décadas, muitos foram os esforços de uma parte da população para se manter parte da cidade e sua história, preservada. Não a toa, um dos seus maiores marcos se deu pelo fechamento da antiga ICC.

Neste ponto, porém, está vontade de boa parte da população, também era mal interpretada. Dentro das redes sociais, neste momento, é possível avaliar através dos comentários e postagens feitas, que muitos internautas relatam o abuso com meio ambiente em Imbituba, o crescimento desordenado da cidade, a falta total de planejamento em todos os sentidos, a tentativa de diminuição de áreas que deveriam estar intactas ou protegidas, e a indignação de muitos que conhecem e frequentam o local, para lazer ou esporte.

Muitos vociferam a possibilidade que a área já deveria ter sido transformada em parque ambiental municipal pelo poder público, uma luta antiga de entidades como a Asaep – Associação de Surfistas, Amigos e Ecologistas da praia do Porto -, em Imbituba, bem como a manutenção de espécies pre-existentes ali.

Além disso, outros ‘acusam o golpe que sofreram’, ao chegar neste momento e ‘ver uma área tão preservada quanto aquela ser disputada por empresários de plantão’. Em dois dias, após a informação sobre o cercamento chegar as redes sociais, mais de 1300 pessoas aderiram ao perfil SOS Praia d’Água – Imbituba – Pela preservação definitiva.

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1 thought on “Entorno da praia d’Àgua, em Imbituba, é cercada e comunidade se revolta

  1. Por onde andam os órgãos ambientais, fundação do meio ambiente municipal, estadual. A AOS da Baleia França não se manifesta? E o SOU em Florianópolis? Além disso, se for área de marinha, ninguém toca! Não conheço bem o local, porém, creio que o primeiro passo é a busca por orientação no MP Ministério Público, após esse procedimento, outros órgãos devem ser questionados. Se há uma praia e área de preservação permanente, tudo se resolve com muita rapidez, quer dizer, vai depender da promotoria agilizar e bater de frente com esse cidadão.

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