9 de março de 2025

OP Pro Imbituba 94: 31 anos de histórias e grandes lembranças

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O evento que marcou o surf catarinense e brasileiro: Nestes dias 21, 22 e 23 de fevereiro de 2025, fazem exatos 31 anos que uma etapa do Circuito Brasileiro de Surf Profissional – também válida para o recém criado Mundial WQS da ASP – marcou a história do surf imbitubense e nacional. Muitos dos que leem este texto agora, nem eram nascidos ainda há época e poderão saber mais abaixo

Cartaz e convite para o OP PRO Imbituba 94, na praia da Vila, e Imbituba.

A realização do lendário OP PRO 94 marcou, em definitivo, a entrada da praia da Vila, em Imbituba, no calendário nacional – e também mundial, por que não dizer – de surf competição profissional. Foram 3 dias de expectativas, alimentadas por histórias de grandes ondas que já pulsavam na cabeça dos atletas profissionais que compunham o Circuito Brasileiro de Surf daquela época, e poucos deles conheciam o potencial real das ondas de Imbituba. 

Após os dois primeiros dias com ondas pequenas, ainda que perfeitas, com parte da imprensa à época já questionando a escolha de Imbituba para a realização do evento, um moderado vento leste soprou durante o sábado (22) a tarde e varou a madrugada de domingo (23). Ao amanhecer, todas as dúvidas estavam desfeitas. Ondas de 12 pés – em torno de 3 metros -, entravam com força ao lado da Ilha Santana de Dentro, deixando alguns ‘Tops’ do evento ‘desguarnecidos’, pois não levaram equipamento adequado e necessário, já que o evento ocorria em pleno verão.

À época, segundo a clipagem de imprensa feita para todos os eventos nacionais que ocorriam – um recorte de tudo que foi publicado na imprensa sobre o evento -, o OP Pro Imbituba 94 foi considerado o segundo evento mais divulgado pela imprensa em geral, ficando atrás apenas do Mormaii Locobeach 88, em Garopaba. E essas estatísticas se mantiveram por décadas, até o início da era Supersurf e WCT no Brasil.

Sidão da OP acreditou no fim da era ICC

Em visita a Imbituba, ainda em 1993, para fechar o OP Pro 94, Sidão deu uma volta no centro de Imbituba e encontrou Sérgio David, ou Capitão David, na loja de surf Anjo do Mar. Foto: Eduardo Rosa.

Uma matéria com 8 páginas sobre Imbituba, publicada em junho de 1993 na Revista de surf Hardcore, foi o suficiente para atrair um dos maiores empresários do surf brasileiro há época, hoje falecido, Sidney Tenucci, o Sidão da OP. Ele acreditou e apostou pesado para realizar este evento, que comemorou o fim da ‘era ICC’ – Industria Carboquímica Catarinense -, contratando, inclusive, uma equipe exclusiva de filmagem para fazer o vídeo do evento, algo quase inimaginável financeiramente à época.

Segundo Sidão, “Transferi o OP PRO para Imbituba em 1994, local que pouca gente lembrava que existia em função da detonação que a carboquímica – ICC – causou no local e na vegetação e na cidade, por motivos afetivos e pessoais,  Em 1973, surfei lá pela primeira vez com amigos, sem cordinha, que não havia sido inventada ainda, uns 2 paus e meio. Acabávamos de chegar do Peru“.

Prefeitura de Imbituba com papel decisivo e Ricardo Ziemath na Secretaria de Turismo

Da esq. para a dir., Ricardo Ziemath, Edson Ledo Ronchi, Sidão Tenucci e Davi Husadel na assinatura do Termo de Compromisso entre a Prefeitura de Imbituba, a ABRASP e a OP. Foto: Eduardo Rosa.

Junto com Sidão da OP, a participação da Prefeitura de Imbituba foi decisiva para a realização do evento. O prefeito naquela ocasião, Jeronimo Lopes, não mediu esforços, e reuniu diversas entidades da cidade formando uma comissão em torno da organização do campeonato, dada a grandeza do evento, algo que nunca havia ocorrido na cidade até então. A comissão tinha a função de atender tudo que cabia a prefeitura e Imbituba para que o evento ocorresse. Foram cerca de 4 meses de desdobramentos para enfim, o evento ocorresse em fevereiro de 94.

Para completar a equipe, o Prefeito Jerônimo chamou, nada menos, que Ricardo Ziemath para ser o Secretário de Turismo de Imbituba. O surfista Ricardo era empresário na cidade, e nos anos 70 e 80 era considerado um dos melhores shapers de pranchas em Imbituba e de SC, com as lendárias pranchas ISF – Ilha de São Francisco -, numa época em que os campeonatos de surf contavam com mais de 15 ou 20 pranchas como premiação. Foi um dos maiores incentivadores do surf imbitubense tendo até equipe de surf em destaque em Imbituba e a nível estadual.

Robertinho de Bona – ‘in memorian’ – e o primeiro palanque móvel do Brasil e um dos primeiros do mundo

Primeiro palanque móvel de surf do Brasil, idealizado e projetado pelo engenheiro Roberto de Bona. Foto: Eduardo Rosa.

O evento também ficou marcado pela montagem do primeiro palanque móvel do Brasil em eventos de surf, e um dos primeiros do mundo também. A idealização do projeto e a construção do palanque, construído em cima da carroceria de um caminhão Scânia, usado para transporte de cargas e de contêineres, ficou a cargo do arquiteto Roberto de Bona, responsável pelo setor de planejamento da Prefeitura de Imbituba há época, e que tem em sua família diversos surfistas.

O maior teste que palanque passou foi no início do primeiro dia do evento (21) ao ser trazido por uma Scânia deste a área da Hipermodal, próximo ao bairro Divineia, até a praia da Vila, onde iria acontecer o evento. A transferência, que teve início as 4 horas da madrugada – para acordar o caminhoneiro em Nova Brasília e que faria a condução – contou com a colaboração da Celesc – Centrais Elétricas de Santa Catarina -, levantando os fios dos postes para a passagem da estrutura, a Polícia Militar, para acompanhar e liberar o trânsito, e a equipe da ASI que ajudou no translado.

Moacir Ciro Martins – ‘in momerian’: “Sidão é o cara!!!”

Moacir Ciro Martins e Maurício Martins da HB Assessoria de Imprensa. Foto: Eduardo Rosa.

O já falecido, Moacir Ciro Martins Júnior, proprietário da HB Assessoria de Imprensa, contratada pela realizar a divulgação dos eventos da ABRASP – Associação Brasileira de Surf Profissional – à época, também relembra daquele memorável evento, “Foi o Sidão que fez!!! Como sempre soube montar uma equipe que cumpriu seus objetivos. Tive orgulho de fazer parte dela com a HB Comunicações. Quem não conhece surfe nas nuvens em breve vai estar sonhando com essa nova modalidade que o cara vai implantar lá em cima. Sidão, o cara!

O maior problema, segundo diversos membros da imprensa presente ao OP Pro 94, não foi tão a falta de ondas nos dois primeiros dias. Para muitos, o maior ‘perrengue’ que passaram foi comer tanto camarão e peixe, praticamente, todos os 3 dias do campeonato.

A sala de imprensa, bem como a maioria jornalistas ficaram hospedados no Imbituba Hotel, antigo hotel do Moreira, e o cicerone do Restaurante Marinho, o próprio Marinho, “vira e mexe, aparecia várias vezes no dia para lhes oferecer porções de frutos do mar como cortesia“. Até hoje confidenciam isso sobre o falecido Marinho e seu restaurante.

Para a ASI – Associação de Surf Imbitubense -, que tinha como presidente da entidade, Eduardo Rosa, “O evento acabou vindo mais rápido que as pretensões da entidade à época. Mesmo assim, foi um marco para o Surf Imbitubense e catarinense, e que precisa ser lembrado sempre, pelo legado deixado até os dias de hoje, quando outros grandes eventos ocorreram, como o Supersurf, culminando com a realização durante 7 anos do WCT Brasil“.

Bira Schaufert, presidente da Fecasurf há época: “Um marco para o surf catarinense e Brasileiro!”

Bira Schaufert, presidente da Fecasurf durante a realização do OP Pro Imbituba 94. Foto: Aleko Stergiou.

Presidente da FECASURF naquele momento, Bira Schaufert, também relembra este evento: “Em 94, era o último ano de nossa gestão a frente da Fecasurf, e foi ano da saída do OP PRO de Florianópolis, da praia da Joaquina. A marca OP PRO sempre esteve associada ao surf catarinense, e marcou uma época importante da profissionalização do surf em nosso estado. Ter feito a última edição do OP PRO na praia da Vila, na nossa gestão, eu creio que foi um marco para o surf catarinense, e para todos os surfistas e para o surf brasileiro. Uma praia como a Vila, que anos depois veio a sediar eventos tão importantes quanto o Circuito Mundial, me sinto feliz por ter participado de alguma forma na realização do OP PRO Imbituba”.  

Neste mesmo campeonato, o local Fabinho Carvalho, que já trilhava seu caminho nas competições, venceu a bateria Expression Session, que elegia a melhor manobra executada, e com um tubo profundo em direção ao canal da Vila. Décadas depois, Fabinho foi convidade novamente para participar da etapa do WCT em Imbituba e enfrentar ninguém menos que Kelly Slater, a lenda do surf mundial.

Fábio Carvalho recebendo a premiação pela melhor onda da bateria expression session do OP Pro Imbituba 94. Foto: Eduardo Rosa.

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