15 de setembro de 2025

Sinais da praia da Vila, em Imbituba

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Uma tese ou uma confirmação?!! Imbituba prova mais uma vez o quanto gosta de receber grandes eventos e mostra sua força a quase uma semana do início da 8ª parada do Qualifying Series (QS) latino americano. Ondas variam com séries de 6 a 8 pés plus, desde a última quinta-feira (11) e deve manter a pressão até o início do evento nesta quarta-feira (17)

Henrique de Bona, num dia qualquer, na praia da Vila, em Imbituba. Foto: Henrique Buchele.

A praia da Vila, em Imbituba (SC), em mais de 40 anos já recebeu inúmeros eventos, desde etapas do circuito local até a primeira divisão do Mundial de Surf da World Surf League (WSL) no início do século atual. E uma das coisas que mais chama a atenção, se formos colocar numa breve estatística, é a quantidade e o tamanho das ondas que rolaram em todos estes eventos.

Uns chamam de coincidência, outros de mistério, mas a tese mais provável seria quantidade de dias com onda e surfe que a Vila proporciona, principalmente, para o free surfers. No dia a dia, para quem surfa com constância no canto da Vila, longas semanas podem se passar sem onda, como já ocorreram diversas vezes. Mas, quando um evento é marcado, segura que vem onda!!!

Competições nunca ficaram sem ondas, muitas vezes, com excesso delas

Chicão, praia da Vila, 1985. Foto: Átila Sbruzzi.

Foi assim sempre. Em etapas do circuito da Associação de Surf de Imbituba (ASI), por mais merreca que estivesse, não se tem notícia de um evento ter sido adiado ou cancelado por falta de ondas. Muito pelo contrário. Relatos de excesso de onda, sim, houve, como um evento lendário, o Rip Villas de Surf, entre o fim da década de 80 e início dos 90, que seria na praia da Vila, e teve que ser transferido para a praia da Ribanceira. Ou uma etapa do Estadual da Federação Catarinense de Surf (Fecasurf), que ocorreu na praia do Porto, por ser mais protegida da ressaca que entrara, e seu palco original, a praia da Vila.

Na metade da década de 80, uma etapa do Circuito Catarinense da extinta Associação Catarinense de Surf (ACS) estampou páginas da extinta revista Inside, com ondas de mais de 3 metros de altura, e muita história da galera pra contar. Luiz Neguinho, Ivan Junckes, e cia, que o digam. Mas, foi um local que pegou uma das maiores naqueles dias, Alcino Marques, o Chicão, e teve sua onda registrada pelo fotografo Átila Sbruzzi e até hoje povoa as redes sociais como a onda mais lendária da Vila.

Circuito Brasileiro Amador em apuros!! OP Pro 94 marcou a história em Imbituba

OP Pro Imbituba 94. Ao fundo a força das ondas da praia da Vila que marcou o último dia do evento. Foto: Eduardo Rosa.

Antes do fim da década de 80, uma etapa do Brasileiro de Surf Amador, organizado pela antiga Confederação Brasileira de Surf (CBS), também chamou ondas de respeito para a praia da Vila. Séries com mais de 2,5 metros de altura colocavam a prova a nova geração do surf brasileiro. Apesar de não ter tido tanta repercussão há época, os atletas que lá estiveram sentiram o peso da Vila.

Em 1994, a praia da Vila retorna novamente ao cenário nacional com a realização do OP Pro Imbituba 94, 1ª etapa do Circuito Brasileiro de Surf da extinta Abrasp (Assoc. Brasileiro de Surf Profissional), e que também valia pontos para o recém criado, mundial de surf World Qualifying Series (WQS), como terceira etapa. A mística da potência da Vila foi minimizada por atletas pelo fato do evento estar ocorrendo em pleno verão, no mês de fevereiro, quando a incidência de ondas seria a menor possível.

Não dá pra brincar com a Vila!!! Atletas vieram preparados para ondas pequenas e médias, com suas pranchas comuns para este tipo de mar e que disputavam as principais competições profissionais pelo país. A tranquilidade reinou nos dois primeiros dias de evento, com ondas na faixa de meio metro na sexta feira (21), e um dia espetacular de verão. No sábado (22), o vento nordeste fraco deu lugar a uma lestada na parte da tarde. Até chuva caiu.

Depois de uma noite chuvosa e ventosa, o último dia do evento, um domingo (23), que aparentemente não prometia muita coisa, deu lugar a correria logo ao amanhecer. Ondas perfeitas com cerca de 3 metros de altura fizeram a galera, que ainda disputava o evento, sair pela cidade atras de pranchas grandes (gunzeiras), para enfrentar o mar que encostou na Vila.

Supersurf e WCT: Nunca faltou onda

Gabriel Medina, em 2010, no Prime da Praia da Vila. Foto: Jaime Mengue.

O próximo retorno mais significativo de Imbituba ao cenário nacional e internacional de surf, foi durante os eventos Prime da WSL, os Supersurf’s que rolaram alguns anos na Vila, e poucos dias se viu pouca onda. A mesma coisa aconteceu com a chegada do World Champioship Tour (WCT) a Imbituba. No primeiro ano do evento, em 2003, o palco principal foi montado na praia da Joaquina, em Florianópolis, com todo seu misticismo de grandes eventos. Os primeiros dias de espera foram longos em Floripa.

Até que, após a praia lá estar cheia, o miss biquini e uma expression session ter rolado – bateria onde a melhor manobra vence –, onde os melhores atletas do planeta eram a atração principal, em ondas pequenas, tudo para distrair o público presente, um segundo palco já havia sido preparado antecipadamente, mas estava esquecido. Foi então que resolveram perguntar para o surfista local de Imbituba e juiz, Caluta, como estava o mar aqui em Imbituba. “Em torno de um metro com séries maiores“.

Então, todo o circo da WSL se deslocou para Imbituba, e a angústia dos atletas de atravessarem a BR 101 todos os dias para chegarem a Zimba para competir aumentava cada vez que pegavam a via, que há época estava em processo de duplicação, e em sua maior parte em pista simples e esburacada, fez acender um alerta até o ano seguinte. A partir do terceiro ano, em 2003, todos chegaram a um consenso, que o palco principal seria na praia da Vila, e foi assim até 2009.

Em 2010, com a ida do WCT para o Rio de Janeiro, uma etapa Prime do Mundial de Surf WSL, foi deixada para acontecer na Vila. E foi o que todos presenciaram, ondas em torno de 1 a 2 metros, com Gabriel Medina fazendo seus malabarismos e assombrando o mundo do surf, com suas manobras e seus aéreos, como o Superman, que a imprensa deu ênfase efusiva para a facilidade com que ele manobrava.

Vila mostrando seu potencial do início ao fim

Fabinho Carvalho, durante o Desafio No Fear de ondas grandes.

Voltando um pouco no tempo, e só para confirmar a tese destacada até aqui, em uma etapa do catarinense de surf, entre tantas outras que rolaram altas ondas, pouca gente irá se lembrar disso. Há época o atual presidente da Fecasurf, Renato Melo, e seu irmão Maurício, eram competidores natos e presenciaram o ocorrido.

A etapa da praia da Vila teve início num sábado, com ondas perfeitas na faixa de 1,5 a 2 metros, mar liso e pouco vento. O surfista local, Fabinho Carvalho, vinha dominando as ações desde sua primeira bateria, com tubos longos, surfados vindo por trás do pico. Eventual campeão, a etapa foi transferida por conta de uma invasão de área feita por freesurfers e um competidor local, por ter achado que as notas dadas a ele foram injustas.

A próxima etapa do Catarinense aconteceria na praia do Morro das Pedras, em Florianópolis, no mês seguinte. As etapas do catarinense ocorriam nos sábados e domingos, mas, abriu-se uma brecha para que as baterias que restavam da etapa da Vila acontecessem na sexta feira. O mar no Morro das Pedras amanheceu como poucas vezes se viu até hoje.

Ondas com quase 2 metros de altura, vindas lá de trás do costão do Morrão, causando até dificuldades para que os juízes vissem com exatidão o início das ondas, e os surfistas conseguissem completar os longos tubos que quebravam. Quem no fim venceu esta etapa que teve início em Imbituba, surfando no limite em frente as afiadas pedras do pico?!! Fábio Carvalho.

Se tudo der certo, este estigma da praia da Vila deve durar ainda por muito tempo, pois, falou em acontecer um grande evento no canto da Vila, as ondas aparecem. E isto já está mais que evidenciado. E está sendo assim, antecipadamente, desde a última semana que antecedeu a realização desta etapa do QS na praia da Vila, que tem início nesta quarta-feira (17), o mar reagiu e só deve parar após o dia da grande final, dia 21.

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