2 de outubro de 2024

Briga por ondas envolvendo atleta profissional de SC acaba na delegacia

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A surfista de bodyboard Teresa Sukienik, 51 anos, relatou supostas ameaças sofridas em 22 de fevereiro, quando surfava na praia da Silveira, Santa Catarina, onde mora há 10 anos

Teresa em sua casa, na Silveira, onde mora há dez anos, segura o B.O. feito em razão das ameaças sofridas. Foto arquivo pessoal.

Fellipe Ximenes, atleta profissional que já participou inclusive de etapas da divisão de acesso da elite mundial, teria ‘rabeado’ Teresa em duas ondas e não gostou quando uma amiga da surfista teria pedido para ‘liberar ondas às mulheres’. 

De acordo com a vítima e uma testemunha, André Carvalho, 39, que filmava o treino de Teresa e gravou o momento que teria motivado a discussão, Fellipe estava exaltado e gritava. Ximenes também teria ameaçado André no estacionamento do local. 

‘Se tu é mulher, tu fica quieta agora’

“Era um dia de mar pequeno, ondinhas boas, pouca gente na água, tinha tudo para ser um dia gostoso de surfe. Estava com uma amiga e um amigo que filmava na areia nosso treino. Tudo ia bem. Quando chega o Fellipe gritando”, diz Teresa.

Ele pega uma onda minha, eu não falo nada. Ele pega a segunda onda minha também não falo nada. Vou para o lado. Só que minha amiga não sabia quem era ele, e fala algo do tipo: “libera umas ondas aí”, falou educadamente. Aí ele começou a gritar, enfurecido e dizia: “ tu que é a culpada, tu que falou para ela. Eu sou surfista profissional, não falem comigo”.

Segundo Teresa, a discussão piorou na areia

Imagens cedidas por André Carvalho no momento em que Fellipe entra na frente de Teresa.

Ele continuou na areia, veio para cima de mim e quase me bateu. Ele botava o dedo na minha cara e dizia: “se tu é mulher, tu fica quieta agora, se me prejudicar aí vai ver o que é bom”, ele gritava, conta a surfista.

Os amigos deles chegaram. Eu já estava chorando. Acredito que não fossem os amigos terem tirado, era bem capaz dele ter partido para cima de mim. Eu não fiz nada.

Tive medo, então achei melhor ir à delegacia. Na hora foi muito traumático, fui chorando”, diz Sukienik.

Depois disso ele ainda me ligou várias vezes, então retornei à delegacia, pois moro sozinha e não quero me sentir ameaçada. Tenho ligações dele no meu celular, mas não atendi a nenhuma. Vou encarar essa, porque nos dias atuais, fazer o que ele fez comigo não dá; eu tô traumatizada até agora.

‘Não sei se elas colam velcro’

De acordo com André Carvalho, testemunha, as falas de Ximenes demonstram sexismo.

Estávamos treinando na frente da casa dela, sou instrutor e no momento da confusão eu filmava. Esse rapaz entrou na água e em pouco tempo rabeou a Teresa numa direita, de forma bem bizarra. Em seguida, ele rabeou ela numa esquerda, da mesma maneira, de forma bruta”, relata André.

Depois dos episódios em que o Fellipe entra nas ondas da Teresa, notei que a amiga dela se aproxima dele e fala algo. Em seguida eles gesticulam bastante e consegui ver o Fellipe batendo a mão na água. Aí vi que a coisa tinha esquentado”, diz André.

Quando eu estava indo embora ele me abordou de novo. Eu estava dentro do carro e ele me ameaçou claramente. ‘Não passa imagem minha que vá me prejudicar, senão o bicho vai pegar’, ele dizia. Respondi que estava apenas fazendo meu trabalho e que passaria as imagens para Teresa”, fala André.

Ele dizia: essa daí (Teresa) tá sempre aqui. Elas vem surfar aqui essas mulher (sic), não sei se elas colam velcro ou não”.

Então ele perguntou se eu tinha mulher. Fiz que sim com a cabeça. Aí ele perguntou: “a tua mulher sai na rua arranjando problema com homem?” Eu fiz que não com a cabeça. Aí ele disse: “a minha mulher não sai na rua arranjando problema com homem. Essas mulher (sic) querem mídia, querem aparecer.

Lembro de falar: cara tu é grande, tu fala alto, elas se sentiram acuadas, você tava gritando. E ele disse que não iria bater nelas, mas que se precisasse chamaria a esposa”, lembra Carvalho.

Ele ainda falou: eu não ia bater, se eu tiver que bater vou chamar a minha mulher, e a minha mulher vai bater nelas”.

Um dos momentos em que Fellipe impede Teresa de seguir na onda. Imagens de André Carvalho.

André diz que as falas de Ximenes ficaram gravadas na memórias. “Além do localismo, senti que teve uma questão de gênero, o fato delas serem mulheres aumentou a raiva dele, no meu ponto de vista.

O blog tentou contato com Fellipe por dois dias. No entanto ele não atendeu às ligações e nem respondeu às mensagens. Porém, o advogado de Ximenes, Ronner Saad, fez contato.

Vamos nos manifestar sobre as injúrias e difamações que o Felipe está sofrendo. Qualquer matéria que não haja sua devida fundamentação estará sujeita ao ajuizamento de ações que responsabilizam os autores”, disse Saad. 

Então, finalmente, o blog recebeu o comunicado, emitido por meio do advogado, que será publicado na íntegra, ao fim da matéria.

Dedicação ao bodyboard e ao empoderamento feminino

Segundo a vítima, Teresa, desde que resolveu compartilhar nas redes, a agressão sofridas ela tem recebido inúmeras mensagens de apoio, inclusive de pessoas que dizem terem sido vítimas de ameaças e intimidações do mesmo surfista.

Minha reputação é excelente, a única questão que já tive em todos esses anos no mar, foi com um amigo dele. As pessoas estão me apoiando. Estou no mar, também querendo surfar de igual para igual, e eles não suportam isso”. 

Teresa, é funcionária pública da Receita e divide seu tempo entre o trabalho e as ondas. Além da carreira, ela encabeça um projeto que empodera mulheres por meio do esporte. “Em três anos de projeto, já iniciamos mais de 50 mulheres”, conta ela.

Ela (Teresa) pratica o bodyboard há mais de trinta anos, tem inúmeras viagens de surfe, é competidora, uma das melhores atletas masters do Brasil. Não vive do bodyboard, mas para o bodyboard. Além de ser um ícone em Santa Catarina, super respeitada, ela tem um projeto incrível que empodera mulheres através do esporte. Dentro da modalidade e no sul do Brasil ela tem uma representatividade muito grande nesse nosso universo”, diz André.

Confira na íntegra o comunicado de Fellipe Ximenes

Fellipe Ximenes, vem por meio deste, elucidar as acusações que lhe foram imputadas nessa sexta, dia 11 de março e informar que todas as acusações realizadas não condizem com a realidade.

Ressalta-se que o surfista, bem como toda sua equipe, não compactuam com qualquer tipo de violência ou discriminação, seja no esporte ou fora dele, de modo que as acusações proferidas são direcionadas para uma pessoa e um profissional íntegro, pai de família e que sempre tratou sua esposa e todas as mulheres, na vida e no esporte, com muito respeito.

Cabe mencionar ainda, que Fellipe é um surfista profissional respeitado em todo o país e, inclusive, no exterior, que retira o sustento de sua família através da prática do Surf e, há anos faz parte da Associação de Surf de Garopaba – SC e sempre foi grande incentivador dos surfistas locais e do Surf feminino, razão pela qual sempre tratou todos os colegas de profissão com grande respeito e admiração, o que pode ser reafirmado por meio do podcast ao qual Fellipe participou, ocasião em que enaltece a presença feminina no Surf brasileiro.

A tentativa de difamar o grande profissional respeitoso que Fellipe é e sempre foi, baseia-se única e exclusivamente em uma interferência em uma onda, o que não merece prosperar, já que, em primeiro ponto, não foi de maneira proposital, pois o atleta estava treinando na Praia do Silveira para um campeonato profissional que disputaria nos próximos dias e, em nenhum momento percebeu a presença da surfista Teresa, não se tratando, nem na mais remota hipótese, de qualquer perseguição direcionada a outro profissional. Vejamos que tentar criminalizar uma interferência em uma onda, seria o mesmo que responsabilizar um jogador de futebol por uma roubada de bola, já que são situações intrinsecamente inerentes à prática dos esportes, situação que não enseja qualquer motivo para ser difamado e injuriado, fato que ocorreu, conforme os prints da rede social Instagram.

Na ocasião, o que ocorreu em verdade foi que Fellipe, no dia 22 de fevereiro, foi insultado e ameaçado pela surfista Teresa, momento em que ela, acompanhada de uma amiga, proferiu xingamentos como “babaca”, “chatão” e “mal educado” e afirmou que postaria a imagem de Fellipe nas redes sociais e ele “iria ver com quem se meteu”, tudo em razão de uma despretensiosa e ingênua interferência em onda que a surfista estaria, razão pela qual, quase 20 dias depois, Teresa postou imagens do atleta, o vinculando à informações caluniosas e o prejudicando profissionalmente.

Informa-se, por fim, que todas as injúrias e difamações que estão ocorrendo em nome do profissional Fellipe Ximenes, serão devidamente apuradas nas esferas cível e criminal, com base nos artigos 186 do Código Civil, 139 e 140 do Código Penal e artigo 5º, inciso X, da Constituição Federal.

Postado originalmente por origemsurf – 14 março de 2022.

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